Saudade é um grande trunfo da língua portuguesa, mas esse sentimento com certeza é universal. Pra mim corresponde a uma lembrança e uma vontade. Mas não qualquer lembrança e nem qualquer vontade. É a lembrança de algo muito bom que se viu, sentiu, falou ou viveu, mas que passou e é irrepetível, e quando vem essa vontade de repetir o irrepetível atrelada a essa lembrança de algo que é etéreo e não existe mais, não há dúvida, é saudade.
Eu sempre tive a dúvida se esse sentimento era representado com a palavra no singular ou no plural (saudade ou saudades), os dois estão certos, mas saindo do campo gramatical percebi que ela é sempre plural, pois não se sente saudade de um fato, pessoa ou momento em si, como um todo, mas de cada partícula daquilo que foi tão real e que agora não passa de uma bela mas dolorosa lembrança.
Sempre acontece, acreditamos, alimentamos, nos doamos por algo e no final tudo se vai, ou se transforma, saindo do nosso controle. E ao contrário do que se pensa num primeiro momento, a saudade não está necessariamente ligada à distância, mas sim a algum término ou simplesmente alguma transformação. Não há pior saudade do que a de alguém que está perto, não se sente saudade da pessoa, mas de uma ligação que existia e já não mais se sente.
Distância realmente não é físico, e a saudade mais avassaladora é a que leva a amizade mas deixa o amigo, fisicamente a pessoa está lá, mas aquele elo, o sentimento, a intimidade, esse qualquer coisa que não se explica, mas proporciona uma extrema vontade de estar junto, simplesmente se vai, e transforma em estranhos quem outrora se acreditou um compartilhador da própria alma.
O certo é que sempre sentiremos saudades de algum outro tempo, de algum amigo que se foi eternamente, ou que está próximo, mas ainda assim distante, teremos saudades do frio e logo mais do calor, de estar calado e de falar, do silêncio e do som, tentaremos voltar, corrigir, consertar, restabelecer, mas nada será igual outra vez, ela, sempre plural, será nossa senhora. Impiedosa, por um momento nos faz acreditar que tudo voltará a ser como antes, ela conta com a ajuda do tempo que dilata a nostalgia e contorna todo sofrimento.
Mas é ela a responsável por tornar o nosso passado bonito, só quem já viveu bons momentos pode ter saudade. Graças a Deus o tempo não volta e não podemos transformar o passado em presente outra vez. Nos resta então lembrar carinhosamente e ter vontade de restabelecer o que não volta, ou seja, nos conformemos com a saudade. Antes que a matemos ela nos matará.
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